quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Leituras: nº1 "Escuta Zé Ninguém!" de Wilhelm Reich

Nesta obra, do remoto verão de 1945, Wilhelm Reich, é feita uma análise ao homem comum.

Ao falar dele começa por descreve-lo com exactidão, vê-lo como sendo o “herdeiro de um passado terrível” a razão do crescimento de todas as coisas que hoje são a vergonha que marca a sua história, a razão de todo o sofrimento na actualidade e no que ainda está para vir.

O "Zé Ninguém" irá ser sempre selo enquanto o medo for maior do que a ambição de mudança. Não estando a promover nenhuma espécie de revolução dos proletários do mundo inteiro, mas sim uma revolução nas mentalidades de cada um.

Só a progressiva consciencialização do ser humano é que poderá trazer-lhe algo melhor, algo que poderá prosperar para toda a Humanidade.

É gritante que o homem comum se depare com a sua realidade e saiba encarar o que é necessário de facto valorizar. O homem comum, diz Reich, é tudo. É a opinião publica, é a consciência social, é a força é o meio e o fim de toda a humanidade cabendo-lhe somente assumir o seu papel. É um livro que junta o barato ao bom, e de leitura altamente recomendada.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

A Viagem

Nesta viagem que passamos, deparamo-nos com várias mudanças. Talvez seja mesmo essa a principal génese da nossa existência. Deparamo-nos com duas grandes variáveis que nos controlam ou controlamos. A esperança e a desilusão. Igualmente poderosas, igualmente devastadoras. Numa talvez biológica necessidade de ambicionar um mundo melhor, sonhamos que é possível tudo, na nossa juventude intranquila e cheia de ambições. Achamo-nos a força que vai fazer algo, a força que vai marcar a diferença. Naturalmente, e progressivamente, mais depressa ou mais devagar, dependendo das nossas ilusões, deparamo-nos que consistem apensas nisso. Ilusões. Vagas imagens de algo que só vimos no nosso pensamento. Ficamos progressivamente, mais frios. Mais distantes, deixamos de querer saber tanto. Alteramos as nossas miras. Vão para o andar de baixo num prédio com 50 andares. Vamos descendo a nossa esperança, a força vai perdendo a sua razão. A sua coragem. Damos por nós a pensar que precisamos que o mundo mude, para que nos sejamos felizes e não para que os outros o sejam. Perdemos as nossas metas. E enquanto vamos descendo de andar, alteramos a nossa abordagem, admitimos o inadmissível em andares mais altos. Quer nos andares á esquerda ou á direita. Vimo-nos reduzidos á mediocridade que nos envolve e consome. Tentamos irremediavelmente ser a força motora da mudança, só que agora numa escala menor, num andar que não seja lá tão alto. Tentamos mudar o nosso círculo mais próximo. O nosso grau de influência, os nossos amigos, a nossa família, o nosso curso. E ai também vimos que não podemos ser juízes de quem se rege por leis diferentes das nossas, alteramos novamente a nossa perspectiva de abordagem ao problema que sufocantemente temos que conseguir mudar. E cada mudança deixa-nos mais espaço no peito para respirar. Mais força para outras viagens de fazer tudo aos nossos olhos. Os olhos de quem realmente sabe. Achamo-nos o monarca absoluto que tem solução para todos os problemas, que sabe as rotas para todos os destinos, que deve e tem de alertar quantos conseguir para não se desviarem dessa rota idealizada no nosso cérebro de medíocre e efémera ambição. Do pouco que vamos conseguindo, vamos ganhando mais força. No entanto, o que não conseguimos é o que determina a nossa força, diminuímos a cada hora a nossa ambição, e sobre quem e no quê queremos e achamos poder mudar. Sofremos de desilusão crónica, numa esperança que nos vai levar á morte se não pararmos de lhe dar importância. Algum dia iremos parar, e olhar para o nosso reflexo, vemos a imagem que nos orgulha. A imagem daquele exemplo, incondicional e perpétuo das nossas sedes. Reparamos que somos o que nos orgulhamos, sim. Mas que não nos orgulhamos do impacto diminuto que temos. Do eventual e grandioso impacto que todos os nossos sonhos teriam sobre todos nós. Pensamos que se calhar, nós é que estamos mal. Que dever temos nós? Todo? Nenhum? Tememos a única e exclusiva preocupação na nossa felicidade. Gostamos de distribuir gratuitamente mapas a toda a gente, rapidamente os deitam fora mal deixamos de pregar o nosso credo. Somos tão grandes como a nossa força, e tão pequenos como a nossa dor. As nossas desvanecidas esperanças, não são mais que retórica repetitiva e inútil. Inútil. É o que somos. Mas temos sempre a cada vez mais necessária vontade de ver alguma, por mais pequena, por mais minúscula mudança. Que por meio segundo nos diga, valeu a pena tudo isto. Temo acabar virando-me para mim só. Para os meus sonhos. E não para os nossos sonhos. Como um todo, de todas as cores e credos, de todas as forças e vontades. De todas as desilusões e esperanças. O segredo, o segredo está na ponderação. Na moderação. Na mais razoável equilíbrio entre esperança e desilusão. Essa ponderação que ainda me assusta, é o caminho mais razoável a seguir. O mais plausível, o mais palpável, mas sonho. Sonho muito. E sei que um dia. Um dia é que vai ser. Um dia vão me ouvir mesmo quando estou ausente, e vão pensar no que queria mesmo quando não estiver cá. A vida é mesmo isto crescer, sofrer, sorrir, perder, ganhar, morrer. E a morte não acontece quando damos entrada na lista da necrologia de um qualquer jornal regional. Acontece quando o animal das desilusões dá a ultima facada no fraco e corajoso animal que irracionalmente espera sempre mais dele, dos outros, do mundo.